Viver com nostalgia é colecionar começos… e sentir falta de todos eles, o tempo inteiro. - Uma mente ansiosa.
Esse texto é pra quem sente falta de tudo… o tempo inteiro.
A verdade é que eu sinto falta de tudo. De tudo o tempo inteiro.
Sinto falta do que já foi, do que quase foi, do que nem teve tempo de ser (“e se”).
Parece que a vida inteira me escapa pelas mãos e tudo que sobra é saudade. Saudade até do presente, enquanto ele ainda acontece.
O começo de tudo é tão bom…
Tão leve, tão cheio de promessa, tão cheio de possibilidades que eu juro — juro — que se desse, eu morava no começo das coisas.
Na primeira risada. No primeiro olhar que acende alguma coisa aqui dentro. No primeiro dia de tudo que eu já amei viver.
Mas a vida…
A vida tem essa mania cruel de fazer tudo andar - ou quem sabe eu foco tanto no futuro ou no passado que acabo esquecendo o presente e vou lá e culpa a vida.
E eu fico.
Fico parada olhando as coisas irem embora, escorrendo pelos meus dedos como se eu nunca tivesse segurado direito.
É como se eu colecionasse começos.
E me despedisse do mundo inteiro todos os dias.
Do cheiro, do som, das conversas, dos sorrisos, dos olhares que um dia pareceram eternos — e nem duraram tanto assim.
E, sim, eu admito: eu nunca superei nada na minha vida.
Nunca superei quem eu fui, nem quem eu não consegui ser.
Nunca superei as pessoas que passaram, os lugares que ficaram diferentes, os dias que pareciam tão grandes e agora cabem em um suspiro apertado, não é que o quintal que a gente brincava era maior que a cidade inteira, mas eu só descobri depois de grande.
Eu vivo de saudade.
Saudade de tudo.
Saudade até de mim.
E talvez eu tenha nascido pra isso mesmo…
Pra colecionar começos, pra me apaixonar pelo instante, pra sofrer com o fim — que sempre chega, sempre chega, sempre chega.
E se alguém me perguntar o que é que eu queria da vida…
Eu respondo sem pensar:
Eu queria morar no começo das coisas.
Sabe… às vezes eu penso que, quem sente demais, não vive — sobrevive.
A vida inteira apertando o peito, tentando segurar o que nunca ficou.
Tentando fotografar com a memória cada cheiro, cada riso, cada detalhe bobo que, pra mim, nunca foi tão bobo assim.
E eu fico aqui…
Tentando entender se isso é um dom ou uma maldição.
Se essa minha mania de guardar o mundo dentro de mim é coisa bonita…
Ou se é só mais uma forma silenciosa de me quebrar, pedacinho por pedacinho.
Porque, olha…
Eu sinto falta até do que eu ainda tenho. Sinto falta no meio do abraço.
Sinto falta enquanto olho. Enquanto vivo. Enquanto ainda não acabou.
Como se a minha alma soubesse que tudo passa. Que tudo vai embora.
E quem sabe…
Quem sabe em outra vida, a nostalgia não seja esse castigo que aperta, que sufoca, que faz doer.
Quem sabe, lá na frente, ela seja uma dádiva.
Um abraço do tempo.
Uma prova de que a gente viveu tanto, tão intensamente, que nem a própria vida conseguiu carregar tudo.
Mas tem coisa que só existe pra ser lembrança. E que tá tudo bem.
Hoje eu ainda sou aquela que sente falta de tudo, e talvez sempre serei, pra ser bem sincera.
Que mora nos começos.
Que se despede até do que ainda não acabou. (o que por muitas vezes me ajudou a perceber o quanto aquilo importava pra mim no presente.)
Sabe… ser esse tipo de pessoa — essa que sente demais, essa que nunca supera — é viver carregando uma caixinha invisível.
Uma caixa que pesa.
Que pulsa.
Que nunca se esvazia.
Às vezes, nem precisa abrir.
Basta encostar nela que já dói, já aperta, já sobe aquele nó na garganta que a gente aprende a engolir disfarçado.
E quer saber? Eu tenho uma teoria.
A pior parte de ser assim não é nem a lembrança em si.
É aquele dia comum, aquele tédio bobo, aquele segundo em que você abre a galeria do celular sem intenção.
E aí… pronto.
A vida te atropela. Sem aviso. Sem dó.
Porque ali, naquela sequência de quadradinhos iluminados, mora tudo.
Mora quem você foi. Mora quem você não é mais. Mora aquela versão sua que sorria diferente, que amava diferente, que sonhava coisas que hoje nem fazem tanto sentido assim - que louco pensar nisso né.
Tem aquele print que hoje até dói de olhar.
Aquela foto que parece tão perto, mas tão longe, que dá vontade de estender a mão e tentar tocar.
Tem áudio que você não tem coragem de ouvir.
Tem vídeo que você assiste em silêncio, com aquele sorriso triste de quem sabe que nunca mais vai ser igual.
E eu acho que sou tão apegada em fotos, porque elas são as únicas coisas que restam depois que o momento acaba.
E aí bate.
Bate de um jeito que não tem como explicar pra ninguém.
Como se cada imagem fosse um lembrete cruel de que tudo passa.
De que nada ficou. De que nem você ficou.
É esse misto de amor e dor.
De gratidão e vazio.
De "que bom que eu vivi isso" e "meu Deus, como dói ter perdido isso".
Ser assim…
É viver com uma galeria de fantasmas bonitos.
De versões suas que você visita quando tem coragem. (o que é muito raro kkk).
De pessoas que moram mais nas fotos do que na vida.
De dias que, por algum milagre, você conseguiu congelar — só pra, hoje, eles te derreterem por dentro.
E, mesmo sabendo que dói, você volta. Sempre volta.
Porque, no fundo, essa é sua forma de dizer pra você mesma que nada foi em vão.
Que tudo valeu. E que você conseguiu passar por tudo aquilo.
E, mesmo sabendo que dói…
Eu gosto de ser assim.
Gosto de ser quem sente demais, quem se apega, quem guarda.
Gosto de ser quem congela o tempo em fotos, em lembranças, em músicas, em cheiros, em detalhes que quase ninguém percebe.
Gosto de ser quem volta. (e ser quem volta não é ruim, você acaba entendendo mais da vida e de você mesmo.)
Volta pros lugares que não existem mais, pras conversas que ficaram no meio, pros abraços que hoje moram na memória.
Porque, no fundo, eu sei…
Sabe aquele aperto? Aquela saudade que às vezes rasga, sufoca, desmonta?
Ela só existe porque eu vivi.
Porque eu amei.
Porque eu me joguei.
Porque eu me permiti ser inteira — mesmo sabendo que tudo é finito, que tudo escapa, que tudo vira lembrança mais cedo do que a gente queria.
E, sim…
Eu sou essa pessoa.
A que chora ouvindo músicas antigas.
A que se perde na galeria do celular, olhando pra rostos que já mudaram, pra dias que não voltam, pra versões minhas que eu nem sei onde ficaram.
Mas quer saber?
Entre viver leve e viver intenso…
Eu escolho viver assim.
Mesmo que doa. Mesmo que aperte. Mesmo que a saudade nunca me deixe em paz.
Porque no fim…
Ser assim é a prova mais bonita de que eu realmente estive aqui.
De que eu vivi. De que eu senti.
E se a vida é um sopro…
Que pelo menos eu tenha sentido cada brisa, cada ventania, cada silêncio e cada tempestade. E no final, a nossa vida é uma coleção de saudades.
Então, querido leitor, você mesmo, que tá lendo isso agora…
Me diz… Você também sente assim? Você também carrega uma galeria de memórias dentro do peito? Você também sente falta de tudo, o tempo inteiro?
Porque, se sim…
Se você também é desses que nunca supera, que vive de saudade, que mora nos começos… Saiba que você não tá sozinho.
A gente se encontra por aí…
Pelas fotos antigas.
Pelas músicas que apertam sem avisar.
Pelos cheiros que fazem voltar.
Pelos pedaços do passado que a gente teima em não deixar pra trás.
E quer saber?
Talvez… só talvez…
Ser assim não seja fraqueza.
E o mundo nem sempre sabe o que fazer com quem sente tanto assim.
Mas a gente sabe. A gente sente. A gente vive.
E no fim… isso é tudo que importa. E se você, assim como eu, também sente saudade de tudo o tempo todo… te espero no meu próximo texto sobre saudade. Quem sabe… a gente se reencontra por lá. “A saudade é o azar de quem teve muita sorte.”
Com carinho,
-Uma mente ansiosa ambulante.